Moradora do bairro carioca de Botafogo, Neuza Gago votou em Lula em 1989 e, desde então, tem repetido o voto no PT em todas as eleições para a Presidência da República. Simpática ao atual governo, ela faz, porém, uma queixa: “Lula acerta na política para os mais pobres, mas está esquecendo da classe média”. Com dívidas a pagar, assim como 66,8 milhões de brasileiros, segundo a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, a aposentada de 76 anos está situada nas entrelinhas da pesquisa do Datafolha divulgada este mês, segundo a qual a situação econômica do País melhorou para 35% da população, piorou para 33% e ficou como estava para 29%, na comparação com o governo Bolsonaro. Ela tem a percepção de que o Brasil melhorou, mas ainda não sentiu isso concretamente no próprio bolso: “Eu, por exemplo, não consegui renegociar meus débitos pelo Desenrola, que está desenrolando muito mais aqueles que devem pouco, de 300 a 500 reais. O presidente não pode esquecer que a classe média também vota”.
Além do Datafolha, institutos como Quaest e Ipec também divulgaram pesquisas de opinião neste fim de ano. Subjetividades à parte, as sondagens revelam os principais sentimentos dos brasileiros em relação ao governo e ao País. Ainda no quesito economia, alguns efeitos positivos das políticas implementadas pelo governo se fazem sentir para uma parcela da população. É o caso de Márcio Marques de Oliveira, de 29 anos, morador da Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, e dono de uma barbearia ao lado de um dos acessos à comunidade. “Posso dizer que as perspectivas melhoraram para mim porque consigo ver a evolução da minha barbearia, ganho novos clientes a cada dia”, comemora. Com fama crescente no bairro, onde usa com habilidade máquina e tesoura para fazer os cortes “na régua”, em voga na juventude carioca, o jovem empreendedor é um dos 45% de otimistas que, segundo o Ipec, avaliam que a realidade econômica estará mais favorável daqui a seis meses. “Acho que a situação do País vai melhorar, sim. Quero ter qualidade de vida e estabilidade financeira para cuidar dos meus filhos”, acrescenta Oliveira, que também é dançarino e MC. Nas últimas eleições, ele anulou seu voto.