Entrevistas
Tiro no pé
O PT acomodou-se na relação com a mídia, deixando o caminho livre para a extrema-direita nas redes, alerta João Feres Júnior
Por Fabíola Mendonça 21.12.2023 18h10 | Atualizado há 11 horas
Bolsonaro sabe como se comunicar com a sua base eleitoral – Imagem: Marcos Corrêa/PR
O que mudou no jogo político um ano após Jair Bolsonaro deixar o poder? Na avaliação do cientista político João Feres Júnior, coordenador do Monitor da Extrema Direita e do Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública da Uerj, o bolsonarismo não sofreu grandes abalos após o “Mito” ser desalojado do Palácio do Planalto ou mesmo depois de ficar inelegível, pois a espinha dorsal do movimento, a indústria de fake news, continua operando a todo vapor. Nesta entrevista à repórter Fabíola Mendonça, o especialista analisa o comportamento dos bolsonaristas no primeiro ano de Lula, faz críticas ao PT por não enfrentar a máquina da desinformação e discute o futuro da extrema-direita.
CartaCapital: Que análise o senhor faz do movimento bolsonarista ao término de 2023, um ano após a saída de Jair Bolsonaro da Presidência?
João Feres Júnior: O bolsonarismo continua forte e organizado, porque conseguiu preservar a sua estrutura de comunicação. Ele consegue, a partir de um centro, comunicar narrativas que passam para pessoas apoiadoras em toda a sociedade. A gente não sabe direito como isso funciona, inclusive a missão do meu trabalho é desvendar esse aspecto. Mas a difusão de fake news para essa base está tão forte quanto no período da campanha. A única diferença é que a central da desinformação, o “gabinete do ódio”, estava enraizada no Poder Executivo, mobilizando funcionários do aparato estatal. Isso foi desmontado, mas não feriu de morte esse sistema de comunicação. Ao contrário, eles conseguiram montar canais alternativos.
Fabíola Mendonça
Repórter correspondente de CartaCapital em Pernambuco
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