O primeiro dia após o anúncio das dez medidas econômicas por Javier Milei, na Argentina, foi difícil. A forte desvalorização da moeda local, que chegou a 800 pesos por dólar, em comparação aos menos de 400 pesos por dólar registrados até o dia anterior, provocou um acentuado aumento nos preços.
Em alguns supermercados, houve longas filas e grandes variações de preços entre esta terça (12) e quarta-feira (13).
Por outro lado, os empresários exportadores estão celebrando. Enquanto o dólar paralelo, mais alinhado com a realidade, já estava em torno de mil pesos por dólar, o governo de Alberto Fernandes mantinha uma cotação oficial mais baixa, para tentar controlar artificialmente a inflação.
A necessidade de mudanças era uma unanimidade, e não um tema de debate na Argentina. O que está sendo discutido em Buenos Aires hoje é se as medidas deveriam ser implementadas de forma gradual. O receio é que uma alta inflação desencadeie uma bola de neve ou que uma recessão severa resulte em uma significativa queda na arrecadação, gerando desemprego em massa em um cenário de salários já baixos.
A taxa do dólar nas ruas, conhecida como “blue”, aumentou em mais 80 pesos hoje e atingiu a marca de 1.100 pesos por dólar.
O governo de Milei optou por cortes profundos. Os subsídios devem sofrer uma redução de 30% a partir de janeiro. Isso implica em um aumento nos custos de energia e transporte público a partir do próximo ano.
Milei busca uma transição direta para uma economia de mercado na Argentina. O corte proposto é inédito na história do país. Por sua vez, Alberto Fernandes vinha adotando práticas condenadas na área econômica, como o controle artificial de preços e a impressão de mais notas de pesos para cobrir gastos com salários e outras despesas.
A principal preocupação reside no fato de que o choque proposto por Milei pode ser demasiado grande, segundo alguns economistas consultados pelo Blog. Eles alertam que não foram implementadas medidas compensatórias, como um reajuste salarial. Outra questão levantada por especialistas políticos é o risco de protestos nas ruas de Buenos Aires, algo que não seria inédito.
Agora, resta aguardar para ver os resultados. A intenção é clara: cortar 5% do Produto Interno Bruto em despesas e reequilibrar as contas da Argentina. Resta saber se a população conseguirá suportar um sacrifício tão grande em 2024 e se a dose do remédio não será forte demais.
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