Nos últimos dias, montamos por aqui uma seleção com as bandas internacionais mais influentes dos Anos 90. A década foi fundamental para a construção cultural de toda uma geração mundialmente, e é claro que no Brasil não foi diferente.
Se em países de língua inglesa tínhamos movimentos como o Grunge e o Punk tomando conta das rádios e televisões, o território nacional viu uma forte ascensão do Rock, que ganhou inúmeras formas durante esse período e foi sofrendo mutações de tantos lugares diferentes até se desfigurar completamente, colocando sob os holofotes bandas que simplesmente se recusavam a caber em um rótulo.
Algumas delas, como os Mamonas Assassinas, tiveram seus legados interrompidos cedo demais apesar de toda sua grandeza; outras, como as que citamos abaixo, acabaram influenciando diversos nomes das próximas cenas musicais do país.
Vem com a gente e vamos mergulhar nessas bandas tão importantes para a música brasileira!
A lista está em ordem alfabética.
Angra
Quando se fala no Heavy Metal brasileiro dos Anos 90, temos uma verdadeira seleção de grandes nomes. É até difícil destacar alguns, mas é impossível não colocar o Angra em uma lista como essa.
Em sua primeira formação, que lançou discos como Angels Cry (1993) e Holy Land (1996), o grupo abriu as portas para todo um subgênero do Metal que ainda marcava pouca presença no Brasil, o chamado Power Metal. O alcance foi tanto que o Angra virou referência até em outros países, como o Japão.
Além de tudo, teve um toque único ao perder a vergonha de incorporar elementos brasileiros ao seu som, quebrando um tabu de muitos anos que perdurava entre bandas nacionais de Metal que se recusavam a exibir suas raízes, coisa que o Angra fez com orgulho.
Chico Science & Nação Zumbi
Nunca existiu, e provavelmente nunca existirá, um movimento como foi o Manguebeat, e seu maior ícone foi a incrível Chico Science & Nação Zumbi.
A influência do grupo para a música brasileira é imensurável, elevando o movimento ao seu auge com os discos Afrociberdelia (1994) e Da Lama ao Caos (1996), conquistando o Brasil de Norte a Sul e abrindo portas para uma série de experimentações musicais.
Sempre com muita força em estúdio e nos palcos, a banda era celebrada por público, crítica e pelos maiores nomes da música brasileira da época, que não hesitavam em dizer que Chico Science e a Nação Zumbi eram o que o Brasil tinha de mais revolucionário na época.
Um exemplo que mostra bem esse encontro e reverência de todos é a versão de “Samba Makossa”, que aparece no Acústico MTV do Charlie Brown Jr. e tem a participação de Marcelo D2.
Charlie Brown Jr.
Enquanto o conceito do Skate Punk surgia na Califórnia, o Charlie Brown Jr. fazia a sua própria versão do gênero por aqui de um jeito que jamais seria copiado — ainda que, claro, tenha influenciado muita gente a seguir por um caminho semelhante.
O CBJR é uma daquelas bandas que se recusa a ser colocada em uma caixa; chamá-los simplesmente de Skate Punk, na verdade, é quase um pecado. A realidade é que o grupo liderado por Chorão passava por elementos de Punk Rock, Heavy Metal, Rock, Reggae e tantos outros estilos que foram se ampliando cada vez mais e absorvendo influências do Rap, do Funk e de muito mais gêneros.
O resultado foi fundamental para a pluralização do Rock brasileiro nesse sentido, mostrando que muitas vezes a resposta está em olhar para um lado diferente e ampliar seus horizontes.
CPM 22
A cena Punk e Hardcore no Brasil sempre teve um lugar especial, mostrando ao mesmo tempo a força do nosso underground e, quase paradoxalmente, a capacidade do público brasileiro de elevar a uma grande popularidade bandas que em outros países muito possivelmente estariam fadadas a esse lugar de menor destaque.
O CPM 22 é um exemplo claro disso, tendo saído dos chamados inferninhos para chegar nos maiores palcos do país, incluindo festivais com o Rock in Rio. É claro que, com isso, toda uma geração de fãs de Rock e Hardcore puderam se identificar e perceber que é, sim, possível chegar lá — não que o caminho seja fácil, claro.
O CPM também acaba por fazer uma ponte entre gerações, servindo como inspiração para bandas do passado recente, como NX Zero e Strike, enquanto continua conquistando novos fãs e seguidores nos últimos anos, como ficou claro nos shows recentes em grandes eventos.
Dead Fish
Outra banda fundamental do Hardcore brasileiro, o Dead Fish começou lá no início dos anos 90 e segue até hoje como uma das entidades mais fundamentais da música nacional, seja por sua sonoridade única e pioneira por aqui ou por seus posicionamentos políticos e sociais.
O grupo foi o primeiro a popularizar de verdade o Hardcore Melódico por aqui, importando uma forte cultura internacional e dando toda a cara brasileira a ela. As letras em português, sempre tão afiadas, foram fundamentais para aumentar o alcance e não se confundir com os sons gringos, que possivelmente passariam despercebidos aqui.
Com um legado enorme, o Dead Fish foi e continua sendo inspiração para tanta gente, ainda mais com o estilo voltando à moda nos últimos anos.
Los Hermanos
Você pode amar ou odiar o Los Hermanos, mas a influência do quarteto é inegável. Isso porque, em um momento onde a MPB parecia começar a perder popularidade entre o público mais jovem, a banda foi lá e resgatou uma sonoridade tão brasileira e importante de uma forma que a tornou digerível para essas pessoas.
Indo muito além do hit “Anna Júlia”, o grupo teve uma trajetória incomum; o sucesso radiofônico marcou uma geração logo no álbum de estreia, mas depois a banda resolveu fugir do mainstream e se apoiar cada vez mais em sonoridades que mesclavam o Rock Alternativo europeu e norte-americano com traços tipicamente brasileiros.
Misturando elementos de Radiohead, Chico Buarque, Weezer, Adriana Calcanhotto e Belchior no mesmo lugar, quando parecia que o alcance do Los Hermanos se tornaria menor, ele explodiu.
A banda ganhou status cult e passou do show de estreia do disco Ventura (2003) em uma minúscula casa curitibana para o Maracanã lotado nas apresentações de reunião.
É difícil não ver a sua influência, mesmo que possivelmente indireta, em bandas da geração recente como Móveis Coloniais de Acaju, Supercombo, Maglore e outras.
Os Paralamas do Sucesso
Os Paralamas do Sucesso surgiram nos anos 80 e é difícil dizer exatamente quando foi o auge da banda. Claro que O Passo do Lui, de 1984, é o grande álbum do grupo; ainda assim, a sequência de trabalhos lançados nos anos 90 foi fundamental para a música brasileira tanto quanto seus antecessores.
Expandindo a sonoridade tão única que construiu na década anterior, a banda entregou discos como Nove Luas (1996) e Hey Na Na (1998) que flertam de maneira mais experimental com o limite do Pop Rock, deixando o som dos Paralamas muito mais fluido e menos pertencente a uma única caixinha.
Neles, apareceram hits como “Lourinha Bombril”, “La Bella Luna”, “Busca Vida”, “Ela Disse Adeus” e “O Amor Não Sabe Esperar”, que deram aos Paralamas uma nova e frutífera fase na carreira, com fãs mais jovens e que foram ampliando a base de seguidores do grupo.
Além disso tudo, no início da década, Os Grãos (1991) foi um dos principais responsáveis por elevar o status da banda na Argentina, abrindo portas para uma série de artistas da música nacional chegarem de vez por lá.
Pato Fu
A banda mineira Pato Fu nunca se contentou com padrões e sonoridades pré-definidas.
No início da carreira, o grupo liderado pelo casal Fernanda Takai e John Ulhoa fazia música experimental das boas, distanciando-se bastante do mainstream e lançando um disco de estreia bizarramente batizado como Rotomusic de Liquidificapum (1993).
Ainda assim, parece que o destino tinha um lugar reservado para que o grupo levasse seu Rock Alternativo às multidões, o que veio já em 1995 com o ótimo Gol De Quem? e o mega hit “Sobre o Tempo”, uma balada que faz ótimo uso da voz angelical de Takai.
Nos anos seguintes, o Pato Fu seguiu em alto nível com dois discos excelentes: Tem Mas Acabou (1996) e Televisão de Cachorro (1998) trouxeram verdadeiros clássicos como “Pinga”, “Água”, “Antes Que Seja Tarde” e “Canção Pra Você Viver Mais”.
Nessas idas e vindas entre o experimentalismo e o que há de mais popular, o grupo construiu uma carreira pra lá de sólida que permitiu que até hoje, 31 anos após a sua fundação, o Pato Fu continue experimentando, lançando discos de Pop Rock, Indie e até Música Infantil.
Pavilhão 9
Nos EUA, o movimento de encontro do Rap e do Metal nos anos 90 foi gigantesco. A aproximação desses gêneros gerou frutos enormes por lá, mas também chegou por aqui de forma bastante notável com o Pavilhão 9, banda que fez sua presença ser tão sentida com suas músicas de protesto que passou a se apresentar com o rosto coberto por questão de segurança.
A fusão desses dois gêneros tem muitas formas, mas é talvez o grande pioneirismo do Pavilhão 9 em fazê-lo que os destaca aqui no Brasil. Além disso, claro, a banda sempre apresentou muita qualidade e foi também responsável pela chegada do Gangsta Rap no país, quebrando barreiras de inúmeros lugares de uma vez só.
Até bandas que estão nessa lista (como a que aparece logo abaixo!) foram influenciadas pelo Pavilhão 9, e não há dúvidas de que grupos até dos dias atuais ainda enxergam no grupo paulista uma inspiração.
Planet Hemp
O Planet Hemp, como falamos acima, é uma das bandas que surgiu dessa fusão de estilos como Rap e Metal. No entanto, o grupo de Marcelo D2 não flertava com um som tão pesado a ponto de ser considerado Nu Metal, e focava seus esforços em uma pegada mais próxima do Hardcore e do Punk.
Outros estilos, como o Reggae e o Funk Rock, também ajudaram a marcar essa trajetória que foi tão importante não só musicalmente, mas pelo posicionamento de protesto constante adotado pelo grupo — que, em 2022, mostrou que mesmo hoje em dia não tem medo nenhum de bater de frente com o que há de errado quando lançou o disco JARDINEIROS.
O álbum, aliás, é uma porta de entrada para toda uma nova geração, que assim como a anterior com nomes que vão do Pop Punk ao Rap, de Forfun a Bonde da Stronda, pode acabar se vendo bastante inspirada a seguir por caminhos mais experimentais e plurais da música nacional.
Racionais MC’s
Os Racionais MC’s dispensam apresentações. Ainda assim, vale justificar: é sempre discutível chamar um grupo de Rap de banda, mas vamos abrir essa exceção porque é impossível falar da música brasileira nos anos 90 sem citar o grupo de Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay.
Quando se fala em Racionais e anos 90, o que vem à mente instantaneamente é o álbum Sobrevivendo no Inferno (1997), um verdadeiro manual do Rap nacional. Músicas como “Diário de um Detento” e “Capítulo 4, Versículo 3” mostraram que, quando há algo a ser dito, pouco importa qualquer resistência: a mensagem será transmitida e azar de quem achar ruim.
Não à toa, os Racionais passaram a ser até estudados em universidades ao redor do Brasil e viraram um verdadeiro símbolo, quebrando as fronteiras estaduais e estendendo a cena paulista de Hip Hop para o país inteiro, mostrando àqueles que se encontravam sem voz que era possível se fazer ouvido de alguma forma.
Raimundos
Com todas as polêmicas que envolvem a banda (e suas letras do passado) hoje em dia, o Raimundos continua como um marco fundamental da música brasileira nos Anos 90.
Toda essa turbulência contrasta muito bem com a pegada irreverente que o grupo apresentou desde seu início, quando escancarou as portas do Rock nacional para a influência de ritmos nordestinos.
Apesar de ter suas raízes em Brasília, o grupo foi pioneiro em incorporar elementos de gêneros típicos da região Nordeste, como o Forró, às suas músicas que também tinham riffs dignos de estarem em um disco de Metal pesado ou dos Punks mais brabos do país.
Somando-se a isso, as letras em tom humorístico, que chegam quase na mesma época em que os Mamonas Assassinas se transformaram em ícones brasileiros, fizeram com que o Raimundos chegasse a um patamar especial e extremamente influente, abrindo portas até mesmo para grupos presentes nessa lista.
O Rappa
Desde seu primeiro disco, O Rappa deixou sua proposta muito clara: apesar das notáveis influências do Reggae e do Dub, o grupo tinha raízes fortes no Rock que não passariam despercebidas. Já no álbum autointitulado de estreia, entregou canções que seriam extremamente influentes, inclusive por suas temáticas sociais, ligadas em grande parte ao racismo. É o caso de “Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro”, por exemplo.
O segundo disco, Rappa Mundi (1996), já começou a expandir os horizontes de sucesso da banda. Faixas como “A Feira” e a versão deles para “Vapor Barato” (de Jards Macalé e Waly Salomão, eternizada por Gal Costa) foram fundamentais para levá-los às rádios, diluindo as mensagens densas de uma forma mais digerível para o grande público. Isso sem falar no mega hit “Pescador de Ilusões”!
Ainda nos anos 90, chegou com força ao grande público com o disco Lado B Lado A (1999) e se tornou influência para nomes que vão do Reggae ao Metal — afinal de contas, chegaram até a gravar uma parceria, “Ninguém Regula a América”, com a próxima banda dessa lista…
Sepultura
Definitivamente a banda que não poderia faltar aqui, o Sepultura tem uma influência que vai muito, muito além da música brasileira. Pouco a pouco, desde o início de sua história, o grupo foi construindo uma sonoridade que viria a ser extremamente marcante e se tornaria não apenas pioneira, como também referência inalcançável.
Dá pra dizer que tudo começou ainda nos anos 80, em especial com Beneath the Remains (1989), mas já com Arise (1991) o Sepultura começava a se destacar entre os fãs de Metal nacional e internacional. Quando chegou Chaos A.D., em 1993, a banda já passava a ser uma das mais requisitadas por aqui e certamente inspirou inúmeros artistas “só” com o que havia construído até então.
Mas aí veio Roots, em 1996. E se o KoRn deu o pontapé inicial para o Nu Metal lá nos EUA, Roots se transformou no Santo Graal do estilo; bandas nacionais e internacionais tentavam recriar o que o Sepultura conseguiu, mas ninguém jamais chegou perto.
Clássicos como “Roots Bloody Roots” e “Ratamahatta” são uma experiência surreal, algo que quem ouve pela primeira vez não esquece jamais e pode passar a vida toda tentando encontrar novamente.
Skank
É possível que o caro leitor veja o nome do Skank e rapidamente associe a banda mineira ao Pop Rock, apenas e tão somente.
Se você fizer isso, porém, estará deixando de lado alguns dos melhores discos brasileiros de uma geração pra lá de prolífica.
Os três primeiros discos do Skank, Skank (1992), Calango (1994) e O Samba Poconé (1996) são verdadeiras obras primas que misturam Ska, Reggae, Rock, MPB e muitos ritmos latinos.
Passeando só por hits como “In(Dig)Nação”, “Tanto (I Want You)”, “Esmola”, “Te Ver”, “Jackie Tequila”, “Garota Nacional” e “É Uma Partida de Futebol”, você já terá ótimos exemplos de tudo que listamos acima em um mesmo caldeirão.
Mas tem mais: “A Cerca” é uma espécie de duelo falado em cima de uma guitarra poderosa, “O Beijo e a Reza” é uma das mais belas e subestimadas baladas do Rock Nacional e “Zé Trindade” tem o gigante Manu Chao ajudando a narrar uma verdadeira história de boteco.
Seja pelos grandes sucessos ou pelas músicas menos conhecidas, o Skank acabou influenciando muita gente nos Anos 90 antes de abrir seu leque e incorporar ainda mais sonoridades, do Britpop ao Indie, em outra fase de imenso sucesso nos Anos 2000.
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